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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

poetizando...


 Todas as cartas de amor são ridículas
 
 Álvaro de Campos 

 Todas as cartas de amor são
 Ridículas.
 Não seriam cartas de amor se não fossem
 Ridículas.

  Também escrevi em meu tempo cartas
 de amor, 
 Como as outras,
 Ridículas.

 As cartas de amor, se há amor, 
 Têm de ser
 Ridículas.

 Mas, afinal,
 Só as criaturas que nunca escreveram Cartas
 de amor 
 É que são
 Ridículas.

 Quem me dera no tempo em que escrevia 
 Sem dar por isso
 Cartas de amor
 Ridículas.

 A verdade é que hoje
 As minhas memórias 
 Dessas cartas de amor 
 É que são
 Ridículas.

 (Todas as palavras esdrúxulas,
 Como os sentimentos esdrúxulos,
 São naturalmente Ridículas.)

 Disponível em:  Obra Poética, Rio de Janeiro: Cia. José Aguilar Editora, 1972.

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