Olá, pessoal !
A seguir um material bem extenso, mas detalhado sobre o uso do hífen; material esse realizado por Roberto Sarmento Lima.
Confira!
O uso do hífen segundo o Acordo Ortográfico
Sistematização feita por Roberto Sarmento
Lima
De uso controvertido desde
sempre, o emprego do hífen, mesmo com as novas regras definidas pelo recente
Acordo Ortográfico, continua criando dificuldades para a compreensão do usuário
da língua portuguesa. Assim, pensei, neste documento, disciplinar tal uso,
procurando sistematizar essa questão de forma mais clara e didática.
Para
tal propósito, dividirei a discussão do seu emprego em duas etapas, sob os
seguintes rótulos gerais: (1) Usa-se o hífen; e (2) Não se usa o
hífen. Em cada seção, aparecem exemplos e, às vezes, algumas justificativas
consideradas necessárias ao esclarecimento dos tópicos apresentados. Vejamos:
1. USA-SE O HÍFEN:
1.1.
Continua a ser
usado o hífen em casos de composição por justaposição. Note-se que, nesse caso
específico, não entra em questão a derivação como processo formador de
palavras, com seus prefixos e falsos prefixos — situação que, aliás, exige
outra compreensão —, mas tão-somente os termos compostos.
Desse
modo, persiste o hífen em palavras compostas formadas por:
1.1.1. substantivo
+ substantivo: pombo-correio; médico-cirurgião;
tenente-coronel; decreto-lei; arco-íris; turma-piloto; ano-luz
1.1.2. substantivo + adjetivo: amor-perfeito; guarda-noturno;
cajá-mirim; obra-prima; capitão-mor; conta-corrente; erva-doce
1.1.3. adjetivo
+ adjetivo: azul-escuro; russo-americano;
político-social
1.1.4. adjetivo
com forma reduzida + adjetivo: ítalo-brasileiro (italiano
e brasileiro); hispano-americano (hispânico
e americano); luso-brasileiro (lusitano
e brasileiro); afro-asiático (africano
e asiático); afro-lusitano (africano
e lusitano)
Observação: Interessante
notar que o composto “afrodescendente”, que aparentemente se encaixa na regra
deste item, continua do mesmo jeito, sem hífen. É que, nesse caso, a redução de
“africano” (“afro”) não indica duas etnias, como em “afro-asiático” ou em
“afro-lusitano”, querendo apenas dizer que certo indivíduo descende de
africano. O termo “afro” aí age adjetivamente. Da mesma forma e pela mesma
razão elimina-se o hífen em “eurocomunista” ou em “francofilia” (ao contrário
de “euro-africano” e de “franco-russo”, em que aparecem nitidamente duas
nacionalidades ou duas etnias).
1.1.5. numeral
+ substantivo: primeiro-ministro; primo-infecção;
segunda-feira
1.1.6. verbo
+ substantivo: conta-gotas; guarda-roupa;
toca-discos; finca-pé
1.1.7. substantivos
unidos por preposição: pé-de-moleque; pão-de-ló;
mão-de-obra
Observação: Aqui,
no item 1.1.7, a persistência do hífen é necessária, pois serve para fazer a
distinção entre, por exemplo, o doce conhecido como “pé-de-moleque”, resultado
lexical de matiz metafórico e já gramaticalizado, e o pé de um menino chamado
pelas pessoas de moleque, “pé de moleque”. Nessa segunda situação são
permitidas a inclusão de termo, como se pode ver em “pé grande de
moleque”, ou a transformação da preposição “de” em uma contração, como em “pé daquele
moleque” ou “pé do moleque”, o que evidencia não se tratar de
composto.
1.1.8. verbos
ou substantivos repetidos: quero-quero; ruge-ruge;
ruge-ruge; tico-tico
Observações gerais:
1.
Nada mudou em relação ao que era, antes do Acordo,
nos oito casos acima explicitados.
2. Não
aparece aí nenhum prefixo; trata-se só de termos — de base nominal, adjetival,
numeral ou verbal — formados pelo processo de composição por justaposição. E a
justaposição de palavras, sem incluir jamais prefixos ou falsos prefixos, é que
determina, salvo algumas exceções, que as palavras do conjunto se separem por
hífen.
3. Em
sua maior parte, as palavras unidas pelo hífen têm plena autonomia na língua,
podendo encontrar-se separadamente em contextos verbais diversos e com sentidos
variados: “Vou na quinta à escola, e
não no sábado”; “Dê-me a terça parte
do que arrecadar”; “O pombo voa”; “O pão está bom”; “A infecção
durou muito tempo”; “O americano
curte muito o Brasil”; “O guarda me
parou na rua”; “Ele guarda tudo nos
armários”; “Quero água”; “A obra que você escreveu é sofrível”; “O médico é bom nos seus diagnósticos” etc.
4. Chama
atenção, no Acordo, entretanto, que palavras como “manda-chuva” e “pára-quedas”
(item 1.1.6) perderam extraordinariamente o hífen, passando a grafar-se
“mandachuva” e “paraquedas”. Da mesma forma, as antigas formas “pára-lama”,
“pára-choque” e “pára-vento” passaram a “paralama”, “parachoque” e “paravento”.
(O conjunto musical, liderado por Herbert Vianna, terá de se ajustar à nova
regra, passando a grafar “Paralamas do sucesso”. Ou, por ser uma marca, já era
grafado assim e assim deverá se manter, à revelia das alterações gráficas?)
Alegam os gramáticos que tais compostos perderam a noção de composição.
Pode-se, no entanto, perguntar: e por que perderam? E, a ser assim, por que
“guarda-chuva” ou “para-brisa” continuam a ter o hífen? Trata-se de uma
inconsistência do Acordo Ortográfico.
5.
Fato que também chama atenção — por não ter sido
resolvido pelo Acordo — é que convivem, lado a lado, as chamadas locuções
substantivas, adjetivas, adverbiais e
prepositivas, às vezes com hífen, às vezes sem ele, havendo até desacordo entre
os melhores dicionaristas do país. Por exemplo, o dicionário Aurélio grafa
“dona-de-casa”, com hifens, enquanto o Houaiss registra “dona de casa”,
sem hifens. Dentro desse capítulo escrevem-se sem hífen “cão de guarda”, “fim
de semana”, “café com leite”, “estrada de ferro”, “pão de mel”, “pão com
manteiga”, “sala de jantar”, “cor de vinho”, “à vontade”, “acerca de”, ao passo
que se escrevem com hífen, sem que se saiba exatamente por quê,
“água-de-colônia”, “arco-da-velha”, “cor-de-rosa”, “mais-que-perfeito”,
“pé-de-meia”, “ao-deus-dará”, “à queima-roupa”. O jeito é, a continuar assim,
recorrer à velha decoreba como forma de não se enganar ao escrever.
6.
Tratando ainda das locuções, a que mais tem sido
alvo de engano é a locução adjetiva “à-toa”, que sempre tem hífen para poder
diferenciar-se da homônima adverbial “à toa”, sem hífen. Em frases figés como
“Não é à-toa que...”, a imprensa nacional e as grandes publicações brasileiras
não têm usado o hífen, tratando essa locução adjetiva como adverbial. Note-se
que, no lugar dessa locução, nesse tipo de construção, é sempre possível usar
um adjetivo, e nunca um advérbio: “Não é casual que...”, ou “Não é fortuito
que...”, ou, ainda, “Não é indiferente que...”. Sobre essa
particularidade os dicionaristas e gramáticos têm-se calado. Particularmente
cheguei a consultar até a Academia Brasileira de Letras, que não soube
responder a contento a essa consulta.
1.2.
O hífen é usado
em topônimos que
1.2.2. contenham,
como forma inicial, um verbo: Passa-Quatro;
Quebra-Dentes; Traga-Mouros
1.2.3. ou,
ainda, que contenham, no meio da composição, algum artigo: Trás-os-Montes; Entre-os-Rios
1.2.4. ou
simplesmente, fora das três regras ditas há pouco, constitua já uma tradição: Guiné-Bissau
Observação: Por
isso, por não se enquadrarem nas regras enunciadas neste item, é que se grafam
sem hífen “América do Sul”, “Estados Unidos”, “Costa Rica”, “Timor Leste” etc.
1.3.
O hífen é usado
em compostos que nomeiam espécies de plantas (campo da botânica) e de animais
(campo da zoologia), estejam ou não os seus componentes unidos por preposição:
Observação: No
entanto, escreve-se “malmequer”, nome de uma flor — portanto, do campo da
botânica. Isto ocorre, contrariando a regra, talvez porque essa palavra seja
formada com o auxílio do advérbio mal, que, quando funciona como
prefixo, restringe o emprego do hífen a palavras cujo segundo elemento é
iniciado por vogal ou pela letra h, mas não às outras, as demais
consoantes. Por contaminação, a grafia de “malmequer” faz perder os hifens (Ver
o item 1.4.2, logo a seguir, deste documento).
1.3.2. animais:
bem-te-vi; andorinha-do-mar; formiga-branca;
cobra-d’água; beija-flor; tigre-dentes-de-sabre
1.4.
O hífen é usado
em quase todos os termos que contenham, como se fosse originalmente um prefixo,
o advérbio bem — principalmente quando o segundo termo se inicia por
vogal ou h, mas não só —, e, apenas com essas letras, quando
funciona como prefixo o advérbio mal:
Observação: Mas,
contrariando a regra geral, grafam-se “benfeitor”, “benfeitoria”, “benquerer”,
“benfazejo”.
1.4.2. casos
do advérbio “mal” como prefixo: mal-afortunado;
mal-humorado; mal-educado; mal-assombro
Observação
1: Com o advérbio bem usado
como prefixo, o hífen ocorre mesmo que a segunda palavra não seja iniciada por
vogal ou h (vejam-se os exemplos de “bem-nascido” ou “bem-soante”, com
exceção feita, porém, a “benfeitoria”, “benfeitor”, “benfazejo” e “benquerer”);
mas, no caso particular do advérbio mal, não ocorre a mesma
flexibilidade, razão por que, diante de consoantes, se escrevem “malnascido”,
“malmandado”, “malsoante”, “malsucedido”, “malparado”, “malvisto”,
“malcuidado”, “malfalante”, “malcriado”, “malconservado”, “malcasado”,
“malcheiroso”, “malcomportado”, “malmequer” etc.
Observação 2: Quando
indica o nome de uma doença, a palavra mal sempre tem hífen: “mal-canadense”,
“mal-de-lázaro”, “mal-de-luanda”. “mal-de-gota”.
Observação 3:
Registre-se a forma “mal-limpo”, que apresenta hífen por causa da consoante l,
que aparece no fim da palavra mal e no início da palavra “limpo”.
1.5.
Emprega-se
sempre o hífen quando aparecem, na formação das palavras, os elementos aquém,
além, recém e sem:
1.5.1. com o elemento aquém: aquém-mar; aquém-Pirineus
1.5.2. com o elemento além: além-mar; além-fronteiras; além-Atlântico
1.5.3. com a
preposição sem no papel de prefixo: sem-vergonha;
sem-teto; sem-cerimônia
1.6.
Emprega-se
sempre o hífen — agora em casos específicos de derivação prefixal — quando o
segundo termo se inicia ou por vogal idêntica à vogal que termina o prefixo ou
o falso prefixo ou, ainda, quando o segundo termo se inicia pela letra h:
1.6.1. caso
de vogais idênticas: micro-ondas;
anti-intelectual; contra-almirante; semi-interno; auto-observação;
infra-axilar; supra-auricular; anti--ibérico; arqui-inimigo; eletro-ótica
Observação 1: Tal
regra não serve nem para o prefixo co- nem para o prefixo re-,
aparecendo, assim, da seguinte maneira, as palavras “coordenar”, “coocupante”,
“coobrigação”, “reeducar”, “reeleição”, “reempossado”, “reescrita”.
Observação 2: Não
havendo coincidência de vogais, em outros casos também (vogal mais consoante ou
consoante mais consoante), o hífen desaparece de uma vez por todas dos
derivados, como se vê em “contracheque”, “multiuso”, “autoimunidade”,
“antiplaca”, “agroindústria”, “contrapé”, “semiárido”, “radiopatrulha”,
“microindústria”, “autopeças”, “hidroginástica”, “antivírus”, “hidroavião”,
“anticaspa”, “antiácido”, “antiferrugem”, “anteprojeto”, “autoeducativo”,
“contragolpe”, “seminovo”, “radiotáxi”, “megaoperação”, “cardiovascular”,
“infravermelho”, “macroeconomia”, “radiovitrola”, “seminu”, “antimatéria”,
“antigreve”, “microempresário”, “autoestrada”, “autodefesa”, “audiovisual”,
“hiperdesconto”, “supermercado”, “intercomunicacional”, “socioeconômico”,
“sobreloja” etc. (consultar os itens 2.2.1 e 2.2.2)
Observação 3: A
palavra “ensino-aprendizagem”, que apresenta vogais diferentes no fim de uma
palavra e no começo da outra (ensino e aprendizagem), não se
deixa reger, apesar da aparência formal, por essa regra, porque, aí, em
primeiríssimo lugar, não temos prefixo — primeira condição (ver a Observação 1
do item 1.1. deste documento) —, nem essa palavra é um composto da mesma
maneira que “hispano-americano” ou “pombo-correio”. É um fenômeno à parte,
isolado de todos aqueles que foram comentados até este momento. Note-se que as
duas palavras envolvidas — “ensino” e “aprendizagem” — têm completa autonomia
mesmo no conjunto a que pertencem, o que não é, evidentemente, o caso de
“pombo-correio”, em que “correio” define o tipo de “pombo”, qualificando-o como
se fosse um adjetivo. Aqui, em “ensino-aprendizagem”, trata-se tão-somente de
uma relação entre termos, como acontece com “estrada Rio-São Paulo”,
sequência nominal em que a cidade de São Paulo não determina a cidade do Rio de
Janeiro e vice-versa. Indicia, pois, uma relação de trajeto, nas duas direções:
do Rio para São Paulo, e de São Paulo para o Rio. O mesmo ocorre com
“ensino-aprendizagem”, em que o ensino leva ou não à aprendizagem ou a
aprendizagem direciona o tipo de ensino, mas não necessariamente. Antes da
reforma ortográfica de 2008, essas cadeias vocabulares eram unidas por
travessão, e não por hífen: “estrada Rio—São Paulo” e “processo
ensino—aprendizagem”. Com o Acordo, deu-se, acertadamente, a simplificação, com
a adoção do hífen.
1.6.2. caso
do aparecimento do h iniciando o segundo elemento da derivação: anti-higiênico; co-herdeiro; contra-harmônico;
extra-humano; super-homem; pré-história; sócio-histórico; ultra-hiperbólico;
geo-história; semi-hospitalar; sub-hepático; neo-helênico
Observação: Acontece,
porém, que há palavras cuja raiz começa por h e, mesmo assim,
aglutinaram-se ao prefixo, eliminado o h etimológico, fazendo perder o
hífen, a ponto de contrariar a regra dominante. É o caso de “desumano”,
“subumano”, “inábil”, “inumano”, de larga tradição na língua.
1.7.
Emprega-se
o hífen com palavras formadas com os prefixos circum- e pan-, quando a eles se seguem elementos
iniciados por vogal, m e n
1.7.1. com
o prefixo circum-: circum-escolar;
circum-navegação; circum-murado
1.7.2. com
o prefixo pan-: pan-americano;
pan-mágico; pan-negritude
1.8.
Emprega-se o
hífen com os prefixos pós-, pré- e pró- com algumas exceções a
essa regra:
1.8.1. com
o prefixo pós-: pós-graduação; pós-tônico
1.8.2. com
o prefixo pré-: pré-escolar; pré-datado;
pré-natal
1.8.3. com
o prefixo pró-: pró-reitor; pró-europeu;
pró-africano
Observação: Diz a
regra que tais prefixos se separam por hífen da palavra seguinte porque esta
tem vida própria e inconfundível. No entanto, ainda se escrevem “prever” (“ver”
tem vida à parte), “pospor” (idem) e “promover” (idem). A explicação deveria
ser outra: tais verbos têm larga tradição na língua e sempre se escreveram sem
hífen. No caso de “pré-escolar” ou “pró-reitor”, por exemplo, tais termos
indiciam alternância de situação e distinção semântica no caso de
simultaneidade: existem ao mesmo tempo o “reitor” e o “pró-reitor” e os cargos
não se confundem. Da mesma maneira o “escolar” e o “pré-escolar”. Há o cheque
“datado” e o “pré-datado”, que podem ser emitidos simultaneamente. Mas não se
pode, salvo melhor juízo, “ver” e “prever” ao mesmo tempo, ou “pôr” ou “pospor”
ao mesmo tempo e na mesma situação discursiva.
1.9.
Emprega-se o
hífen com os prefixos hiper-, inter- e super-, se a eles se
seguirem palavras iniciadas pela consoante r:
1.9.1. com
o prefixo hiper-: hiper-requintado
1.9.2. com
o prefixo inter-: inter-racial
1.9.3. com
o prefixo super-: super-revista
1.10.
Emprega-se
sempre hífen com o sufixo ex-, desde que o sentido seja o de estado
anterior:
1.10.1.
é o caso de ex-marido; ex-diretor;
ex-presidente; ex-primeiro-ministro
1.10.2. mas não se deve
confundir com exterior, explicar ou excomungar (no primeiro e
segundo exemplos há a ideia de movimento para fora e o prefixo está devidamente
incorporado à raiz dessas palavras, enquanto no terceiro não aparece a ideia de
uma situação anterior, mas sim aquela que passa a ser, projetivamente)
1.11.
Os sufixos de
origem tupi-guarani como –açu, -guaçu e –mirim separam-se por
hífen da palavra que os precede desde que esta termine por vogal acentuada
graficamente ou, mesmo sem o acento diacrítico, a palavra tenha uma pronúncia
que exija a distinção em relação a tais sufixos:
1.11.1.
com o sufixo –açu: andá-açu; capim-açu;
jacaré-açu
Observação: Note-se
que se deve pronunciar, em “capim-açu”, a palavra “capim” sem fazer a passagem
do som nasal para o sufixo (o que daria “capimaçu”, de som estranho, chegando
até a dificultar a decodificação imediata do composto e seu significado). Daí,
pois, o hífen, a mostrar que não se deve pronunciar fazendo a ligação fonética
entre os elementos do composto.
1.11.2.com
o sufixo –guaçu: amoré-guaçu
1.11.3.
com o sufixo –mirim: anajá-mirim; Ceará-Mirim;
Paraná-mirim
Observação: Não
se usa hífen em “leitor mirim”, por exemplo, porque nem “leitor” termina por
vogal acentuada graficamente (caso de “anajá-mirim”) nem há o risco de ocorrer
ligação fonética entre “leitor” e “mirim” (como em “capim-açu”), que são as
duas restrições da presente regra.
2.1. Nos casos em que o
prefixo termina por vogal e a palavra que se segue começa pelas consoantes r
ou s, tais consoantes se dobram:
2.1.1. vogal + consoante r: autorretrato; antirreligioso; Contrarreforma;
contrarregra; biorritmo; microrradiografia; radiorrelógio; autorradiografia;
arquirrival; antirracional; contrarrazão; antirracial; alvirrubro;
antirrevolucionário; anterrosto; suprarrenal
2.1.2. vogal + consoante s: antissocial; autosserviço;
minissaia; autossuficiente; antissemita; antisséptico; extrassensorial;
pseudossufixo; pseudossigla; multisserviço; contrassenso; autossugestionável;
entressafra; ultrassonografia
2.2. Não se usa o hífen
também quando o prefixo ou o falso prefixo do composto terminam por uma vogal e
o outro elemento começa por vogal diferente ou quando o segundo elemento se
inicia com consoante após uma vogal e, ainda, quando tanto o fim do prefixo
quanto o início do radical da palavra são consoantes:
2.2.1. vogal + outra vogal: antiaéreo; infraestrutura; extraescolar; radioamador;
hidroelétrica; autoinstrução; intrauterino; neoimpressionista; intraocular;
megaestrela;
2.2.2. vogal + consoante: inframencionado; hidromassagem; multivitaminado;
cardiopulmonar; antiterrorista
2.2.3. consoante + consoante: intermunicipal; hiperdesconto;
supermercado
Observação
1: Ao que consta, este item
(consoante + consoante) está restrito aos prefixos inter-, hiper- e super-.
Observação
2: Este caso se encontra na
Observação 2 do item 1.6.1 deste documento, com ampla exemplificação.
Observação
3: No nome do movimento
religioso católico Contrarreforma, como em outras ocorrências em que aparece o
“prefixo” preposicional “contra-”, há que se refletir bastante se, nesses
casos, se trata mesmo de termo derivado e não de um composto por justaposição.
Primeiro, porque a palavra preposição “contra” se acha na língua muitas vezes
usada de forma independente, substantivando-se e assumindo a flexão de número
do substantivo (como em “Os contras da Nicarágua”); segundo, porque
assume valor de raiz, tem matiz semântico, não tendo, pois, o esvaziamento de
sentido peculiar a outras preposições, como a preposição “a” ou a “de”. Por
falta, pois, de melhor reflexão sobre esse tópico, é de pensar se o melhor —
por se poder considerar tal formação um caso de composição — não seria grafar
“Contra-Reforma”, tal como era antes do Acordo Ortográfico, assim como, também,
“contra-regra”, e não “contrarregra”, como prevê o Acordo, que julga tais
palavras, as mencionadas aqui, formas derivadas.
Última
observação: O Acordo exige que, na
translineação, se deve repetir o hífen no começo da outra linha, por amor à
clareza, indicando, assim, que o hífen colocado no fim da linha realmente existe,
faz parte de um composto ou de um termo derivado, e não surgiu ocasionalmente
por causa de eventual separação silábica em fim de linha.
CONCLUSÕES:
1.
Desde a oficialização do Acordo Ortográfico, vê-se
que o hífen é, ainda hoje, mesmo com a reforma, maciçamente empregado e atende
a maioria dos casos, havendo apenas sua eliminação em duas situações muito
específicas: (1) quando, no caso amplo dos derivados, o prefixo termina por
vogal e o segundo elemento se inicia pelas consoantes r e s (caso
de “autorretrato” ou “autosserviço”); e (2) quando, entre o prefixo e o segundo
elemento, não há coincidência de vogais (“autoestrada”), ou a vogal depara com
uma consoante (“anticomunista”), ou simplesmente não há vogais, mas apenas
consoantes (“hipermercado”). A ocorrência “longa-metragem” tem hífen porque se
trata, sim, de um composto, e não de um derivado. Em princípio, todos os
compostos por justaposição têm hífen; já os derivados ora têm, ora não têm.
2.
A dúvida que possa existir quanto à eliminação ou
não do hífen se prende, portanto, apenas a casos de derivação prefixal,
e não envolve casos de composição por justaposição, em que, em geral, sempre se
apresenta hífen (assim, temos, por um lado, os compostos “hispano-americano” e
“guarda-roupa” — as exceções seriam “mandachuva”, “paraquedas”, “paralama”,
“parachoque” e “paravento” —, claros exemplos de composição por justaposição,
enquanto, por outro lado, temos “hipoícone”, sem hífen, e
“anti-intelectualismo”, com hífen, termos que exemplificam casos de derivação
prefixal).
Fontes bibliográficas usadas
para esta sistematização:
ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA: Resolução
nº 17, de 7 de maio de 2008. Recife: Construir, 2008.
AZEREDO, José Carlos de (Coord.). Escrevendo pela
nova ortografia: como usar as regras do novo Acordo Ortográfico da língua
portuguesa. São Paulo: Publifolha/Instituto Antônio Houaiss, 2008.
BORBA, Francisco S. Dicionário de usos do
português do Brasil. São Paulo: Ática, 2002.
BOSCOV, Isabela. A última do português. Veja.
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo
Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. totalmente
rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário
Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LEDUR, Paulo Flávio. Guia prático da nova
ortografia. 3. ed. rev. Porto Alegre: AGE, 2009.
LIMA, Roberto Sarmento. Estava à toa na vida. Língua
portuguesa. São Paulo: Segmento, ano 2, nº 24, out. 2007, p. 48-50.
MACHADO, Josué. Hora de remarcar os dicionários. Língua
portuguesa. São Paulo: Segmento, ano 3, nº 35, set. 2008, p. 28-32.
MANUAL DA NOVA ORTOGRAFIA. São Paulo:
Ática/Scipione, ago. 2008.
MARTINS, Eduardo. Uso do hífen. Barueri, SP:
Manole, 2006.
MONTEIRO, José Lemos de. Morfologia portuguesa. 4.
ed. rev. e ampl. Campinas: Pontes, 2002.
NAPOLI, Tatiana. Quem precisa do Acordo
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Educacional, ano 2, nº 15, [jan./fev. 2009], p. 52-60.
NOVO Acordo entra em vigor. Língua portuguesa. São
Paulo: Segmento, ano 3, nº 39, jan. 2009, p. 16-17.
TEIXEIRA, Jerônimo. A riqueza da língua. Veja. São
Paulo: Abril, ano 40, nº 2.025, 12 set. 2007, p. 88-96.
Maceió,
11 de março de 2008.
Roberto
Sarmento Lima
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