Texto bem interessante que reflete sobre as aulas de redação. Como professora dessa disciplina numa escola particular da cidade, senti necessidade de compartilhá-lo. É muito importante revermos nossas práticas escolares, mas antes delas, revermos nossa postura como professor.
Vale a pena ler!
ESCREVER É COMPROMETER-SE
Sérgio Simka
A palavra texto significa "tecido". Com efeito, o
texto é um tecido composto de palavras que se reúnem em frases, períodos e
parágrafos. Mas antes de assumir essa forma, o texto começa na mente de quem
vai escrevê-lo.
Aí é que reside o grande problema do ensino de
"redação": Ensinam-se técnicas, macetes, dicas, truques, fórmulas
pré-fabricadas de textos, esquemas, roteiros etc., mas não se ensina a pensar.
Tem sido comum, nas aulas de redação, a prática de sugerir
aos alunos que escrevam sobre um assunto em relação ao qual, na maioria das
vezes, não têm sequer afinidade ou aproximação com suas experiências de vida. A
essa prática não se agrega um componente fundamental que é o de levar os alunos
a se debruçarem sobre a questão proposta, a discutirem a matéria, a
questioná-la, a enxergá-la de diversas facetas.
Em outras palavras, os alunos não são levados a pensar sobre
o assunto; não se propõe uma discussão na qual possam expor o que pensam
relativamente à questão. As aulas de redação têm sido momentos enfadonhos dos
quais os alunos participam mais para se verem livres da tarefa do que para
terem a oportunidade de exteriorizar suas opiniões; mais para receberem notas
do que para assumirem um compromisso intelectual.
No entanto, "o escrever" é comprometer-se
intelectualmente; é assumir antes um compromisso com você mesmo diante do que
pensa sobre o assunto, sobre aquilo em que acredita, sobre aquilo que forma seu
conjunto de valores e concepções do mundo. Escrever é conhecer-se; como dizia
Clarice Lispector, "é lembrar-se do que nunca existiu"; e, segundo
Roland Barthes, "é espantar-se".
Espantamo-nos à medida que conhecemos um pouco mais sobre
nós mesmos, sobre o que nos impulsiona, sobre o que nos mantém ligados à existência
etc.
Mas nada disso parece merecer a atenção de nossos alunos e
professores, que se encontram num ensino de redação cujo foco consiste em
distanciar cada vez mais os alunos de constituírem os sujeitos de seu próprio
dizer, de seu próprio texto, que se assenta em experiências de vida, pessoal e
intransferível.
Daí o medo da ‘folha em branco’, dos bloqueios que costumam
vir associados ao ato de escrever. Porque o escrever, na maior parte das vezes,
esteve ligado a um ato que gerou mais frustração do que prazer, que causou mais
traumas que benefícios, que serviu mais para aferir a correção gramatical do
que para aferir a capacidade de organização textual-discursiva, que sempre
esteve associado mais a um dom de poucos do que a uma habilidade que todos podem
adquirir.
O escrever sempre gerou medo. Temos medo de escrever porque
não sabemos pensar. Porque à proporção que o ensino nos levava a não pensar,
nos levava também a ter medo de escrever. E escrever, dentro dessa concepção,
pressupunha conhecer as regras gramaticais, que o ensino também não nos
ensinava. Somos um misto de sem-língua, sem-texto, sem-escrita, sem-pensamento
com outra porção bem grande de com-medo, com-frustração, com-bloqueios. O
resultado, como se vê, não é nada animador.
Devemos mudar o foco de nossas aulas de redação alterando as
estratégias, transformando o ‘medo de escrever’ em ‘prazer de escrever’. Quando
há prazer, tudo fica mais fácil; é mais gostoso, não percebemos o passar das
horas, nos sentimos superbem, ficamos de bem com a vida. É hora de ficarmos de
bem com o ato de escrever, conferindo-lhe prazer e não o medo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por comentar... este blog é nosso. Participe!